Fizemos um convite para a Adriana, avó do André, e
outro para Verônica, mãe do Tácio para que compartilhassem conosco um pouquinho
sobre o Vale do Cuiabá. Nosso objetivo era saber o que os adultos pensavam
sobre o bairro e ouvirmos acontecimentos da vida das convidadas.
Adriana foi a primeira. Nosso encontro aconteceu na
Casa de leitura e as crianças estavam com muitas expectativas. Fizemos algumas
perguntas, como: Há quantos anos você vive aqui no bairro? Você gosta de viver
aqui?
Adriana foi muito gentil e respondeu todas as
perguntas. Disse que veio para o Vale já adulta e teve dificuldades de
adaptação, pois tudo fica muito longe. As ruas não eram asfaltadas e sempre que
chovia ficava difícil a locomoção. Citou também que o ônibus demorava muito
para passar e isso gerava dificuldades para todos os moradores.
Ela citou um acontecimento muito importante e
“divisor de águas” para os moradores: O mutirão de limpeza do rio Santo Antônio
pela Prefeitura e pelos moradores. Adriana estava usando uma camiseta do evento
e disse que este acabou por deixar os moradores mais unidos. Foram retiradas 17
toneladas de lixo do rio. As crianças ficaram tão perplexas com a história que
resolvemos ir até a ponte da escola para ver como estava o rio. Segundo ela,
antigamente os moradores pescavam no rio. Em sala de aula fizemos desenhos do
antes e depois do mutirão.
Atualmente, Adriana está totalmente adaptada ao
bairro e fica feliz por ter feito muitos amigos e espera ver o bairro crescer
ainda mais com a sua ajuda.
Tácio estava muito ansioso pela chegada da mãe e
quando esta chegou ficou muito feliz. O encontro aconteceu em nossa sala de
aula e foi impressionante ver as
crianças tão atentas e entusiasmadas com as histórias de nossas convidadas.
Verônica veio do sertão de Pernambuco para passar
férias no Vale do Cuiabá. Ficou encantada e percebeu que ali era um ótimo lugar
para viver. Teve seus dois filhos que estudam na Escola Padre Quinha.
Recentemente, Verônica voltou para sua terrinha, mas
sentiu que algo estava faltando. Ela sente-se dividida entre a família que está
no Nordeste e a vida que construiu por aqui. Os filhos, segundo ela, também
estranharam a escola.
Verônica cita que a natureza
é motivo de orgulho e de cuidados para a preservação. Ela adora o clima e diz
que não tem preço poder ter uma horta em casa para servir alimentos saudáveis
para sua família.
Ela cita que o bairro ainda
precisa de muitas coisas, pois não temos farmácia, por exemplo, ou ainda, um
mercado maior com mais opções de compra. Ela também fica preocupada porque a
estrada (via principal do bairro), em muitos pontos não existe calçada para os
pedestres e isso é perigoso para as crianças que andam sozinhas.
Receber esses familiares foi
muito bom para as crianças do primeiro ano. Foi muito interessante observar a
atenção deles ao que estava sendo exposto. Eles estavam mesmo integrados as
conversas e aos assuntos tratados. É fundamental trabalharmos neles a
capacidade de ouvir o que as outras pessoas estão falando para que consigam
processar as informações, além de obter
modelos de expressividade. À medida que
o trabalho de sala de aula é integrado às vivências deles, cria um sentimento
de pertencimento, gera sentido ao que está sendo aprendido e isso, para mim, é
fundamental na escola que queremos construir. Além disso, responsabilizar-se
pelo trabalho com a oralidade é, no mínimo, possibilitar que a criança
desenvolva sua competência comunicativa.
Adriana e Verônica, muito obrigada pela parceria.
“A leitura do mundo precede a leitura das palavras.”
Paulo Freire
Um abraço,
Ana
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