domingo, 9 de março de 2014

Escrever com sentido

Ler e escrever? O leão nunca precisou disso, afinal, rugir sempre foi suficiente para ter o que queria! Até que se apaixona por uma leoa leitora.  De fino trato, precisava receber cartas de amor, afinal, “Uma leoa que lê é uma dama”, conclui o felino.  E quando não se sabe escrever, um escriba se torna fundamental... O problema é achar um que consiga captar toda a sensibilidade que o leão exala...

Ao longo da história ele pede que alguns animais escrevam a carta para ele, mas cada bicho escreve de acordo com seus interesses e gostos:
“Querida amiga, quer subir nas árvores comigo? Também tenho bananas para lhe oferecer. São deliciosas! Saudações, Leão.”

O leão fica indignado com todas as cartas escritas pelos animais. “Eu jamais  escreveria uma coisa dessas!”  O leão desanda a falar o que realmente escreveria e a leoa ouve... A história termina com a leoa ensinando o leão a ler e escrever.


A HISTÓRIA DO LEÃO QUE NÃO SABIA ESCREVER


Livro escrito e ilustrado por Martin Bailtscheit, editado pela Martins Fontes. Foi um grande sucesso em minha turma do primeiro ano. Assim como o leão, todas as crianças estão encontrando desafios para ler e escrever. E ter desafios é importante para motivar qualquer aprendiz, principalmente quando o desafio é real, como escrever para os amigos da escola, para os familiares, para outras pessoas.  Essa é uma temática que será explorada em 2014: ter motivos reais para escrever. Depois da leitura do livro, conversamos sobre o assunto na roda. Foi uma conversa tão gostosa que resolvi compartilhar com vocês.

Ana: Pra quê escrevemos?

Pedro: Pra escrever carta, poesia e outras coisas...

Francisco: Dá pra gente escrever um livro e dar pra outra pessoa ler.

Emanuel: Uma lista.

Gabriel: Nós podemos escrever no livro na escola. Se não escrever vai ter que desenhar e a pessoa não vai entender, tem que ter coisa escrita.

Gabriel quis dizer que a escrita é importante, pois alguém que não saiba fazê-lo, poderia utilizar o artifício do desenho, porém não é um instrumento preciso, podendo haver dificuldades na interpretação.

Ana: É verdade! Vamos imaginar que eu queira pedir para a minha empregada cozinhar cenoura para o jantar.  Como eu faço?

Pedro: pode escrever uma carta e coloca no correio.

Ana: Ué, mas vai chegar no mesmo dia? Pra onde vai a carta?

Maria: Pra casa dela!

Ana: Mas ela não trabalha na minha casa?

Francisco: Deixa no móvel que ela vai achar e vai fazer.

Ana: O que eu preciso dizer?

Francisco: Por favor, faça cenoura pro jantar.

Melissa completa: Obrigada, Ana

Ana: E como é que chama essa escrita?

Pedro: É carta.

Ana:Todos concordam?

Todos: Sim!!!!

E se eu não soubesse escrever? Eu poderia desenhar assim...

Fiz o desenho de uma cenoura beeeem mal feita, bem fina, com fiapos na ponta. Logo Gabriel disse... Ela vai achar que é uma vassoura! Que é pra varrer a casa! Se tiver escrito vai ser melhor para ela entender.

Ana: Estão vendo como saber escrever é muito importante pra comunicar?

Emanuel: Pra fazer lista, pra ler o que escreveu.

Pedro: Pra escrever carta, poesia...

Maria: Convite.

Já tinha desistido da história da carta para a empregada e ia pensar em outra ideia, mas Leonardo me deu a deixa perfeita!

Leonardo: Pode escrever bilhete.

Ana: Pra que serve o bilhete?

Gabriel: Pra avisar alguma coisa pra mãe. Por exemplo: O Leo fez bagunça na escola...Tem que mandar um bilhete avisando para a mãe dele!

Ana: Como seria o bilhete?

Gabriel: Mãe, o Leonardo fez bagunça na escola, Assinado, Professora.

Ana: Isso é carta ou bilhete?

Emanuel: É bilhete porque fala menos, carta fala mais!

Ana: Como assim?

Emanuel: Olha, bilhete é coisa pequena, fala pouca coisa e carta escreve muita coisa.

Ana: Ah, então o bilhete escreve uma mensagem curta, tem poucas palavras e a carta escreve muito?

Emanuel: Isso mesmo!

Ana: E se eu quiser dizer: Valéria, Por favor, cozinhe cenouras para o jantar. Obrigada. É muito ou pouco?

Todos: Pouco.

Ana: Então é carta ou bilhete?

Emanuel: É bilhete.

Ana: Mas vocês me disseram no início que era pra eu escrever uma carta e colocar no correio, lembram?

Emanuel: Não! Tem que escrever um bilhete! A carta escreve muito.


Francisco: E só coloca no correio quando a pessoa mora longe!

Outras atividades:


      
Desenho e letras embaralhadas
Letras móveis- escrita dos nomes dos animais

      


Avisei que íamos separar os animais que apareciam nas histórias Superamigos e Leão. Mas que teriam que adivinhar o nome do animal primeiro. Então, ia mostrando a primeira letra, ou a última e eles falavam de acordo com suas estratégias. Para os animais formiga, toupeira, pato, sapo, abutre, hipopótamo, macaco e girafa optei em mostrar a última letra para ser mais desafiador e ter que mostrar outras letras, pois a letra inicial desses animais não eram repetidas. Para caracol, castor, crocodilo, esquilo, escaravelho, leão e leoa, mostrei a primeira. Foi muito interessante quando mostrei a letra L. Todos começaram a gritar: Leão! Leão! Leão! Mostrei a segunda letra E. Não disse!!! Leão! É o leão! Antes de abrir a terceira letra, perguntei: Qual será a próxima letra? A com o til!! Mostrei e era a letra O. Todos ficaram desconcertados, mas Kethlen logo disse: Ah, é a leoa!



         
faltando letras
desafios

Poesia do escaravelho
      

    

9 comentários:

  1. Maravilha de conversa com as crianças, Ana! Isso é a verdadeira educação, baseada na interação real, ainda que muito planejado.
    Muito diferente de trocas verbais ensaiadas, previstas e previsíveis, nas quais as crianças só confirmam o que se espera delas no script já desenhado.
    Uma delícia de modo de aproximação dos gêneros epistolares!
    E, rizomaticamente, uma mente disponível e antenada e crianças criativas e interessadas vão levando a construção da aprendizagem por rumos ricos e singulares!

    E nesse trabalho com cartas tem também tantos outros livros bacanas para explorar, né? Como Viviana rainha do pijama, A carta de Hugo, O Carteiro chegou e o Natal do Carteiro (que você mandou de presente pra mim e pro Joaquim!), e o delicioso Felpo Filpa, com muitos outros gêneros...enfim, vários livros desses...

    Tantas possibilidades!
    Amei muito!
    Bjos,
    Lica

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  2. Que coisa linda isso, Lica! Fiquei até emocionada ao ler. Muuuuuuito obrigada mesmo!
    E foi lindo assim. Eu fui anotando enquanto acontecia.... correndo pra não perder nada. Achando tudo muito interessante. Conforme a conversa ia se processando eu quase não acreditava no que estava acontecendo de tão bacana. Fui dando corda, foi fluindo muito naturalmente e as crianças, sem medo de serem felizes, foram falando o que pensavam e foi muito bom. Nessa turma tem muitos Licos também. Rsrsrsrs
    Quando a aula acabou eu corri para o computador com as minhas anotações pra poder escrever do jeito que foi, pois se deixasse para outro dia eu ia esquecer alguma coisa.
    Felpo Filva e Viviana já estão no forno! Trabalhar com os gêneros me dá muito prazer e os livros nos proporciona isso com muita classe.
    Que bom que gostou, Lica! Tenho trabalhado com muito empenho e muita vontade de acertar. Obrigada pelo seu incentivo.
    Beijos,
    Ana

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  3. Amei mesmo o post, Aninha!
    As crianças são fantásticas você bem sabe - basta deixarmos que elas falem, se coloquem verdadeiramente, que aprendam que a sala de aula é um lugar de interação e que sua fala será ouvida, terá valor naquela situação e caberá na tessitura da construção do conhecimento. Arremedos de interação povoam muitas práticas escolares, o caminho da riqueza da educação é a interação real dos sujeitos envolvidos no processo!
    E vejo isso em seus relatos de prática!
    Beijosssss,
    Lica

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  4. Pois é, Lica! Às vezes, o que se procura está mais perto do que se imagina! A essência já está dentro da sala de aula: as crianças. É preciso que se permita voar. Tenho tentado saber menos e ouvir mais. Todo professor deveria pensar nisso, pois eu estou pensando sempre.
    Beijos, querida!
    Ana

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  5. Obrigadão Dona Ana e Dona Lica ! Vcs não tem idéia da ajuda quee stão dando às pessoas que estão, como eu, vivendo de perto processos dos filhos/as neste universo...e precisando enxergar caminhos legais e possíveis... sobretudo prazerosos... Adorei mesmo! Abraços e que vcs sigam assim, abertas a compartilhar os saberes e fazeres , mobilizando a vontade de aprendermos sempre! (Nãna Dias - não sei porque meu perfil aqui ainda aparece como "Mama Soul"..rsss..é um blog antigo! :)

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  6. Obrigada, Nãna Dias,
    A Lica me incentivou a criar um blog para compartilhar um pouquinho do que faço em minha sala de aula. Confesso que dá um frio na barriga, pois abrir sua janela para o mundo ver não é fácil. Faço coisas simples, muitas das quais tanta gente já fez, mas que dá certo. Coisas que vem na cabeça de repente, coisas que aprendo nos livros e assim vai. Aceito com muito gosto as sugestões e principalmente o carinho de pessoas como você. Conheci a Lica em 2011, pela internet. É uma pessoa maravilhosa, muito disponível e atenciosa. Aprendi muitas coisas lendo o blog dela e também conversando. E assim, como você disse muitíssimo bem: mobilizando a vontade de aprendermos sempre. Esse, certamente é o desejo que me move.
    Beijos,
    Ana

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  7. Amei este blog! Quero continuar mantendo contato e trocando experiências! Estou pensando também em montar um blog. Primeiro já estou pensando em um projeto voltado para os alunos e seus familiares referente ao processo de ensino e aprendizagem...leitura, escrita, interpretação, produção textual, raciocínio lógico matemático... Através de atividades diferenciadas!!!

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  8. Peço para enviar os comentários no meu e-mail pessoal:
    ranuzia1007@gmail.com o outro é institucional.
    Desde já agradeço a atenção!

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  9. Boa noite, Ranuzia!
    Que bom que gostou! O blog está parado há tempos, mas eu tenho muita vontade de reativá-lo. Mas estão aí algumas experiências que tive. Crie um blog sim! É uma forma de pensar sobre o que se faz, uma maneira de registro, além de compartilhar experiências.
    Um abraço!

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