A
hortelã: usos e benefícios
“Observar não é, pois, uma atividade prévia à
teoria; não é uma coleta aleatória de dados esparsos. É, antes, uma forma de
olhar os fenômenos interrogando-os.” http://timfazciencia.com.br/observar/
A atividade teve início no Canto de São
Francisco, um espaço ambiental criado na escola. Ao longo do semestre, estamos
desenvolvendo um projeto sobre os chás medicinais. Levamos para o espaço um
caça-vegetal, com pistas para que pudessem descobrir, entre outras, através dos
sentidos a erva hortelã. Após a abertura de uma caixa, cujo conteúdo era o
envelope que continha o jogo, conversamos sobre o assunto:
Prof: “Como poderemos achar esse vegetal?”
Catharina: “Ouvindo as dicas e procurando.”
Prof: “Com quais partes do nosso corpo?”
Catharina: “Com o olfato podemos sentir o
cheiro.”
A partir da fala de Catharina, compreendi que
ela já sabia a respeito dos sentidos. Mas, precisava verificar se esse era um
conhecimento dela ou da turma.
Prof. “E o que mais?”
Maria Eduarda: “Podemos ver com os olhos.”
Prof: E como chama esse sentido?
Todos: “Visão!!!”
Thifany: “E pode sentir comendo”
Prof: “Esse é o paladar. Mas eu posso sentir
com o tato. Qual a parte do corpo?”
Camily: “É com a mão.”
Prof: “Mas eu só sinto com a mão? E se passar
alguma coisa no meu braço ou na minha perna, eu sinto?
Joaquim: “É com a pele.”
Prof: “Então nós vamos ler as dicas, mas
vamos combinar que, neste momento, só
usaremos a visão.”
Uma a uma, as pistas iam sendo sorteadas e
alguma criança era escolhida para procurar a planta somente através da visão a
partir da dica, que correspondia à característica do vegetal.
As pistas:
É uma planta rasteira.
A altura pode variar de acordo com a espécie.
Tem
sabor de menta.
Tem
alturas variadas: de 15 cm a 1 metro de altura.
Suas
flores são pequenas e de cor violeta.
As
folhas são ovaladas.
Tem
sabor refrescante.
Possui
folhas verdes.
As
folhas são rugosas.
Suas
folhas são aromáticas.
Algumas dicas não ajudavam muito a
identificação, pois poderiam corresponder a qualquer planta e necessitavam de
um conhecimento maior por parte dos alunos, mas eu tinha a certeza de que três
dicas seriam muito boas para a identificação do vegetal:
Tem
sabor de menta.
Tem
sabor refrescante.
Suas
folhas são aromáticas.
Prof: “Bem, então já que vocês acertaram,
utilizando somente a observação e as pistas, vamos conhecer a planta através do
olfato?”
João: “Tem cheiro de pasta de dente.”
Kauã: “Parece bala!”
Maria Eduarda: “Hum... Que cheiro bom!”
Depois que todos sentiram o cheiro da
hortelã, propus que os alunos observassem a planta e que a tocassem.
Maria Luiza: “A folha tem risquinhos e tem as
pontas não são lisas.”
A essa altura, todos já estavam querendo
provar. Quando perguntei quem gostaria de provar a folha, todos levantaram o
braço. Quando o primeiro aluno provou e disse que era bom, foi mais empolgante
ainda. Todas as crianças provaram. Apenas duas disseram que não gostaram.
“Tem o mesmo gosto e cheiro da pasta de
dente.”
“É igual a bala de hortelã.”
“Pode usar nas saladas. “
“Pode fazer suco.”
“Serve para dor de barriga.”
“Tem cheiro bom.”
Levei um exemplar
para a sala para que pudéssemos analisar melhor.
Verificamos que quando a planta é nova e
pequena, o caule é fino e verde. As folhas são pequenas. Quando o vegetal
cresce mais, o caule é mais grosso e possui a cor arroxeada.
Os alunos não conheciam muito os seus
benefícios e também não sabiam dizer se os familiares a utilizavam.
Sendo assim, propus que levassem uma pesquisa
para casa para descobrirem tais informações.
Propus desenhos sobre o vegetal para
utilizarmos posteriormente no mural que iríamos construir.
Li a pesquisa juntamente com os alunos para
que se apropriassem das questões que estariam levando para casa e expliquei-os
sobre como deveriam proceder ao fazerem as perguntas aos familiares, com
perguntas simples do tipo: “Nós utilizamos a hortelã aqui em casa?”
Todas as crianças
levaram os questionários (anexo 1), porém tivemos contratempos, pois algumas
crianças não os trouxeram para a escola no dia seguinte. Expliquei ao grupo que
precisávamos das respostas de todos os alunos, pois a fonte de pesquisa eram os
alunos da turma, portanto, todos deveriam participar. Depois de várias
tentativas e de novas cópias distribuídas, conseguimos a totalidade de
questionários respondidos para que iniciássemos o processo de análise dos dados
obtidos.
Com os questionários em mãos, verificamos se haviam 35
questionários para nos certificar que todos os questionários haviam retornado.
Conversei com as crianças, explicando que trabalharíamos com as informações em
partes.
Retomamos a primeira
questão: “A família utiliza a hortelã?” Todos queriam falar sobre o assunto.
Combinamos que todos falariam e decidimos seguir a ordem dos questionários.
Conforme fui chamando cada criança, esta ia respondendo se a hortelã era
utilizada ou não. A partir daí, fomos marcando cada resposta para verificarmos,
no final, a quantidade exata de respostas afirmativas e negativas.
Com as quantidades verificadas, completamos uma tabela
para ser a base de informações e partimos para a elaboração do gráfico de
barras. Como a turma já tinha participado de outras elaborações de gráficos, sua
construção foi mais fácil.
Prof: “Como podemos fazer o
gráfico?”
Joaquim: “Verificamos na
tabela quantas respostas ‘sim’ e quantas ‘não’. Depois pintamos ou colamos o
‘quadradinho’ no gráfico dessa mesma quantidade.”
Thifany: “Tem que colocar o
título em cima.”
Prof: “E onde fica a fonte
de pesquisa?”
Todos: “Embaixo.”
Elaboramos,
a partir da pesquisa realizada pelas crianças com os familiares, uma lista com
a utilização da hortelã. Muitos já haviam incorporado as respostas do
questionário e diziam com propriedade as formas de utilização da hortelã em
suas casas. Resolvemos que cada criança explicaria como essa utilização se dava
e, de vez em quando, ouvíamos algumas crianças dizendo: “Na minha casa também!”
Fomos listando as utilizações no quadro e verificamos usos variados. Classificamos
os usos em “ALIMENTAÇÃO” e “USO MEDICINAL”. Foi importante, pois nem todas as
crianças conheciam, por exemplo, a utilização da hortelã como tempero para
carne na preparação de quibes. O uso da hortelã na elaboração de sucos e chás
eram as mais conhecidas. Essa atividade foi disparadora para a comparação das
respostas dos familiares com as respostas das crianças no início da sequência
didática:
“É igual a bala de hortelã.”
“Pode usar nas
saladas. “
“Pode fazer suco.”
“Serve para dor de
barriga.”
Dessa forma, valorizamos os conhecimentos prévios
trazidos pelas crianças, porém ampliamos o campo de informações, como cita uma
criança: “Eu não sabia que hortelã era um tempero.”
As
crianças foram falando muito entusiasmadas sobre o que já dominavam: “Usamos
para fazer chá.” “Para temperar e fazer sucos.” “Tem família que não usa.”
Partimos
para a elaboração da tabela sobre a utilização. Elencamos as quatro
possibilidades a partir das respostas: USO
MEDICINAL, ALIMENTAÇÃO, OS DOIS E
NENHUMA UTILIZAÇÃO.
Lemos
as respostas de cada criança e fomos anotando os resultados. Se a resposta de
uma criança fosse tempero, marcávamos um traço para alimentação. Dessa forma,
ao terminarmos a leitura de todos os questionários, tínhamos a quantidade exata
de cada item que foi anotado em uma tabela e por meio dessas informações
obtidas, tínhamos os dados para elaborar o gráfico de barras.
É interessante ressaltar que essas atividades foram
realizadas coletivamente com o objetivo de produzir material para o mural da
sala de aula, entretanto, cada criança também produziu suas tabelas e gráficos
no caderno de matemática.
Elaboramos,
a partir dos questionários, uma lista de benefícios trazidos pela hortelã,
nossa última questão da pesquisa realizada com as famílias.
Prof:
“Como os familiares responderam essa questão?”
Cauã:
“Minha mãe já sabia.”
Catharina:
“A minha mãe pesquisou na internet”
Prof:
“Como podemos saber se todas essas respostas estão certas? Se a hortelã serve
mesmo para tudo isso?”
Catharina:
“Tem que pesquisar para ter certeza.”
Julia:
“Nem tudo o que as pessoas dizem é verdade.”
“Verificar é, portanto, se dispor a examinar a
veracidade de um enunciado ou alegação, buscar uma forma de se certificar
que algo é verdadeiro ou que funciona tal como esperado. Isso implica,
portanto, uma atitude e uma disposição não só para questionar algo, mas
para desenvolver formas de verificação.”
http://timfazciencia.com.br/verificar/
Aproveitei
a fala de Júlia para fazer a distinção entre o saber popular e o conhecimento
científico:
Prof:
“Como é que chama quando um conhecimento vai passando de geração em geração?”
Camily:
“Cultura popular.”
Prof:
“Isso! Alguns conhecimentos fazem parte da tradição, quando vai passando de uma
pessoa para outra através da oralidade.”
Então, como a Catharina disse, precisamos pesquisar
para ter certeza se a hortelã traz todos esses benefícios.
Em
outra situação, como leitura do dia, trouxe um texto informativo sobre a
hortelã. Por meio desse texto, tivemos a oportunidade de ir verificando e nos
certificando de alguns benefícios escritos na lista, porém, nem todos foram
contemplados. Fomos colando no cartaz,
uma mãozinha (sinal de positivo), para os benefícios que foram pesquisados.
No final da atividade, percebemos que alguns
benefícios citados pelos pais não haviam sido marcados, pois não constavam no
texto informativo. Vimos a necessidade de fazer novas pesquisas.
Na
sala de informática, utilizamos o site de busca “GOOGLE” para fazer uma
pesquisa digitando “benefícios da hortelã”. Utilizamos o site http://www.saudedica.com.br/hortela/
Convidei
os alunos a lerem as informações contidas no site e eles foram confirmando
informações já conhecidas, além de descobrirem
novos benefícios. Conforme as crianças iam falando os benefícios já
conhecidos ou novos, fomos escrevendo no quadro para formar uma nova lista que
seria retomada posteriormente em sala de aula, para a escrita no caderno e de
uma nova listagem para o mural da sala com o conhecimento pesquisado.
“A
verificação é fruto não simplesmente de uma técnica ou hábito, mas de
uma disposição: a de buscar formas de comprovação daquilo que se crê ser
verdadeiro, válido ou eficaz.” http://timfazciencia.com.br/verificar/
Em sala de aula,
lemos uma receita de chá de hortelã para que as crianças pudessem
compreender seu modo de preparo, além de preencher a ficha da erva.
Finalmente,
preenchemos a ficha da hortelã com os seguintes itens:
NOME
UTILIDADE
MODO DE PREPARO
CURIOSIDADE
“Perguntar e responder são
nossas ferramentas intelectuais mais importantes. As respostas que
temos em nossas cabeças não significam nada a menos que saibamos as
perguntas que as produziram. Uma pergunta é um tipo de oração. Mal
formulada, não produz conhecimentos ou compreensão. Bem formulada,
leva-nos a novos fatos, novas perspectivas, novas ideias.”
http://timfazciencia.com.br/questionar/
O
desenvolvimento desse trabalho foi muito prazeroso. Tanto para mim, quanto para
as crianças. Levantar questões pertinentes, fazendo intervenções pontuais e
relacionadas ao cotidiano da criança é muito interessante, pois os alunos se
interessam de imediato. Além disso, criar atividades que culminarão em produtos
que reverberarão de forma positiva e utilitária para a comunidade em que as
crianças vivem é fundamental para uma educação que produz desenvolvimento.
Essa experiência foi publicada no "Caderno Metodológico" organizado pela Equipe Pedagógica da Secretaria Municipal de Petrópolis.
Ana
Antunes
Muito bom conhecer suas práticas!!!! Aprendendo sempre com vc!!!
ResponderExcluirObrigada Tatiana!
ExcluirFui na sua sala no dia da eleição e me vi muito lá! fiquei feliz! Que bom poder compartilhar ideias com as pessoas e saber que elas aproveitam e colocam pra frente! Muito obrigada!
Bjs,
Ana