terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Tangolomango




Você conhece os "tangolomangos"? Eu não conhecia, mas fui apresentada pela Lica (uma professora muito especial e muito motivadora que possui o blog http://oficinasdealfabetizacao.blogspot.com No blog dela eu aprendi muitas coisas sobre esse texto de tradição oral e gostei de cara!!


Depois de um tempo, Lica disse-me que escreveria um artigo para o "Caderno 5" do Pnaic e que precisaria de um relato de experiência interdisciplinar que tivesse como base o tangolomango. 

Tive medo! Rsrsrsrs!!!!! Fiz o meu melhor!! Aqui nesse registro você poderá conhecer o trabalho desenvolvido na íntegra.

Registro:


O trabalho teve início na Casa de Leitura onde começamos a conversar sobre o final de semana. Emanuel cortara o dedo e estava com um grande curativo.  Todos queriam saber o que havia acontecido.  Ele explicou que havia prendido o dedo na porta e acabou se cortando. Sarah também quis mostrar seu machucado no braço. Willian também ferira o pé. Foi um festival de machucados. Até quem não tinha, já queria arrumar algum para mostrar. Será Tangolomango? 


Propus um telefone sem fio. Todos adoram! A palavra escolhida foi TANGOLOMANGO. Kethlen, a primeira criança, pediu que eu repetisse, pois não entendera nada! Repeti pausadamente TAN-GO-LO-MAN-GO. A brincadeira começou e só se viam caras de espanto: “O quê? Repete!” Cada criança foi passando para a outra o que havia compreendido, mas com a grande desconfiança de que aquilo não deveria estar muito certo. Finalmente, a brincadeira chegara  à última criança e a palavra dita foi .... BALÃO! Kethlen foi logo dizendo: “Não foi nada disso! Era uma outra palavra!” Mas, não sabia explicar para os colegas, pois já havia esquecido. Disse que era uma “coisa” muito diferente e que não lembrava. Emanuel pediu que eu dissesse a palavra correta. Fui logo dizendo: “Tangolomango!” E a uma só voz, só se ouvia: “O que é que é isso?” Ninguém nunca ouvira aquela palavra antes. Pedi que dissessem o que deveria ser o significado dela. Alguns disseram fruta, outros, balão. A palavra era tão diferente que ninguém se arriscava a dar palpites. Começaram a perguntar o que era. Eu disse que iria contar um tangolomango que eu havia conhecido e que lembrava a própria história vivida por eles no final de semana. Era o tangolomango das nove irmãs. Assim que comecei a falar, logo começaram a interagir com o texto. E foi bastante interessante observar como as crianças se mostraram envolvidas por aquele texto caracterizado por repetições.  Ao final da contação, pude perceber o entusiasmo de todos, manifestado quando disse: “ACABOU A GERAÇÃO”. Intensificado, com alegria, ao falarem em coro:  “DEU TANGOLOMANGO NELA”.




 Perguntei o que seria tangolomango e as respostas foram variadas:


Kethlen: É um susto ou um tombo!
Thierry: É sumir, desaparecer!
Emanuel: É uma confusão!
Leonardo: Foi dando uma coisa na cabeça delas!
Emanuel: Eu acho que é quando acontece algum problema! Quando dá alguma coisa errada!
Leonardo: É porque elas sumiram!
Thierry:  É porque acabou a geração! Não tem mais ninguém!

Quando meus alunos pedem para repetir é porque realmente gostaram e eu tive que repetir algumas vezes, pois eles queriam participar. Penso que todas as crianças são assim.
Heloisa disse que as palavras rimavam e que achou muito legal. Fomos pensando em quais eram as rimas daquele tangolomango: oito/biscoito, sete/canivete, seis/inglês, cinco/pinto, quatro/teatro, três/francês, duas/ruas, uma/alguma, feijão/geração. Trabalhamos as rimas no campo da oralidade sem o compromisso com o escrito e todos participaram animadamente. A turma já possui um histórico de trabalho com rimas e esse tipo de atividade, além de motivadora é sempre enriquecedora para as crianças, pois levam os alunos a desenvolverem a consciência fonêmica, reconhecerem padrões e isso facilita o aprendizado da linguagem. Ampliamos as rimas presentes no tangolomango: dezoito, Ivete, marquês, minto, cinto, luas, pluma, espuma.
Conversei com a turma e sugeri que perguntassem em casa se alguém conhecia algum tangolomango. E propus que levassem o Tangolomango das nove irmãs para ler em casa. Um grupo de crianças tinha o objetivo de ler para os pais e outro grupo de ler junto aos pais. Dessa forma, a atividade atenderia à necessidade de cada criança, pois nem todos leem convencionalmente, entretanto todos possuem suas hipóteses de leitura. Além disso, deveriam pesquisar junto aos familiares se conheciam os tangolomangos.
No dia seguinte, todos disseram ter lido para/ou com os pais, entretanto, ninguém conhecia aquele gênero. Sarah disse que sua mãe pesquisara na Internet e descobrira que era uma música. Fomos para a Internet pesquisar e achamos o Tangolomango das nove irmãs, cantada pela Bia Bedran. Ouvimos e eles cantaram, pois já conheciam o texto de cor. Vimos que esse gênero também pode ser cantado.
Li para eles o Tangolomango das bruxas e as crianças acharam muito divertido, comparando-o com o Tangolomango das nove irmãs, percebendo, assim, que há algumas rimas iguais e outras diferentes.  Aquele texto também foi levado para casa pelos alunos, para que os familiares o conhecessem. Dessa vez, entretanto, pedi que alguém da família dinamizasse a leitura de alguns trechos e a criança outros. E assim, a cada tangolomango que conheciam, levavam para compartilhar e interagir com a família.
Para fomentar a ideia de tradição oral, solicitei que ouvissem com bastante atenção, a versão “As nove filhas” de José Mauro Brant, pois após a leitura gostaria de ouvir alguns comentários. Todos ouviram com atenção e fiquei surpresa com as observações, pois fizeram comparações com o tangolomango “Nove irmãs em uma casa” e o “Tangolomango das bruxas”:

Gabriel Ferreira: Nos dois tangolomangos aparece a mesma quantidade de pessoas.
Emanuel: O da bruxa tem 10.
Ana: Vocês sabiam que o número nove sempre foi considerado como um número de mistério?
Ana Carolina: Tem muito mistério nessas histórias!
Maria Cecília: Os dois terminam com acabou a geração.
Heloisa: Todos eles têm rimas.
Pedro: O primeiro, das irmãs na casa, cada uma vai fazer alguma coisa sozinha.  No segundo, das nove filhas, todas vão juntas, mas o tangolomango só acontece com uma delas!
Ana: Nossa, Pedro, adorei essa observação!
Thierry: Tem coisa que é igual e tem coisa que é diferente: uma come feijão e a outra faz feijão.
Ana: Por que será que esses textos são tão parecidos?
Gabriel Ferreira: Cada um conta de um jeito.
Melissa: Ah, então é o conto popular, igual ao da Galinha Ruiva.
Ana: Isso, gente, é a mesma idéia! Por que chamamos alguns textos de contos populares?
Leonardo: Porque não tem autor, é popular.
Ana: E o que significa isso?
Kethlen: É que todo mundo conta e aí as histórias saem diferentes.
Ana: Isso. Dizemos que passa de boca em boca. Eu posso pegar a história do povo e dizer que essa história é minha?
Todos: Não!
Heloisa: Só se mudar algumas coisas, como “A galinha Xadrez”!
Ana: Isso mesmo. Esses tangolomangos fazem parte da cultura do nosso povo. Tem alguns autores que gostam de brincar com esse tipo de texto. Eu vou trazer alguns deles para vocês em outro momento.

Com o primeiro tangolomango, “Nove irmãs numa casa”, cujo conteúdo já sabiam de cor, propus algumas atividades. A primeira delas foi o reconhecimento de palavras no texto. Algumas crianças, com hipóteses de escrita silábico-alfabéticas e alfabéticas fizeram sozinhas; já as silábicas e pré-silábicas, que atualmente correspondem a 6 crianças, fizeram em duplas. O objetivo era circular as palavras que correspondiam às rimas do tangolomango. Após esse trabalho, as crianças procuraram os numerais que apareciam por extenso, em ordem decrescente. Durante a atividade fui circulando pela sala para auxiliar os alunos. Ao notar alguma dificuldade, ia perguntando para a turma: “Que dicas podemos dar para o amigo conseguir achar essa palavra? Com que letra começa? Essa palavra tem algum acento? Qual?”



Também propus uma atividade em duplas ou trios, cujo objetivo era a ordenação de dois versos. As palavras estavam embaralhadas dentro de um envelope. Eles precisavam ordená-las para montar os versos corretamente. Ao passar pelos grupos fui fazendo intervenções. Pedia que lessem o que já haviam construído e perguntava qual era a próxima palavra, com que letra começava ou terminava... Ao concluírem, fomos montando o cartaz com o tangolomango: “Qual grupo virá primeiro? Qual grupo será o próximo?” Aquele cartaz servirá de apoio em sala de aula, onde poderão ler, ajustando partes do falado ao escrito ou buscar referências para a escrita das mesmas ou de outras que possuam o mesmo som.






Como atividade de escrita, propus o texto lacunado. As duplas que necessitavam de mais ajuda trabalharam com o banco de palavras, o que não ocorreu com os mais autônomos. Fui lendo o tangolomango e parando nas lacunas. Eles falavam a palavra que deveria estar escrita e completavam. Em alguns momentos, como na escrita da palavra FRANCÊS, propus uma reflexão coletiva para a escrita, pois várias hipóteses surgiram, mas que foram sendo eliminadas através das falas das crianças. Entretanto, a última palavra foi dada pelos alunos que tinham o banco de palavras. Isso os estimulou, pois tinham a forma correta em suas folhas e participaram ativamente da busca.


Em outra atividade distribui uma cartela com as rimas presente no tangolomango. Tanto as crianças que trabalhavam sozinhas quanto as duplas procuraram a dupla de palavras e usaram uma mesma cor para pintá-las. Ao terminarem, recortaram e colaram as duplas de palavras no caderno.
Nesse dia também jogamos o jogo da rima, do material Trilhas, presente em nossa sala de aula, o que proporcionou novas possibilidades de ampliarmos o repertório.



Uma outra proposta também foi desenvolvida em duplas.  Cada uma delas recebeu o tangolomango em tiras, para recortar e ordenar. Era uma proposta, para mim, ousada, mas as duplas foram bem estudadas e certamente seria uma boa oportunidade para ler e ajustar o falado ao escrito. Foi interessante, pois a dupla de Thierry e Pedro, após cortarem as tiras, separaram-nas em ERAM E DEU, ou seja, todas as tiras que começavam com a palavra ERAM ficaram com Thierry e todas as tiras que começavam com DEU ficaram com Pedro. Eles iam recitando e procurando. Quando observei que eles tinham pensado nessa estratégia, pedi que todos parassem para que eles explicassem o que haviam feito. Todos acharam uma boa ideia e começaram a fazer o mesmo. Dessa forma foi mais fácil ordenar todas as tiras. As rimas no final de cada verso serviram como disparador para que as crianças logo identificassem as tiras corretas. Após a colagem do tangolomango, pensamos na escrita do título Tangolomango. Refletimos como essa palavra é grande e com muitas letras, entretanto já era familiar para eles e não tiveram dificuldades em escrevê-la. Como temos muitos cartazes com o mesmo tangolomango, escreveremos uma carta para todas as turmas explicando um pouco sobre o tangolomango e deixaremos um cartaz em cada sala. Dessa forma, estaremos ampliando o conhecimento desse gênero aos outros alunos da escola e também trará uma função para os cartazes que fizemos. 












Em outro dia,  retomamos a ideia do que era um tangolomango. As crianças disseram que era um texto que rimava e que até poderia ser cantado. Era uma história contada pelas pessoas. Leonardo muito esperto, disse que parecia com uma parlenda e Gabriel afirmou que era um texto muito misterioso.

Relembramos a ideia de que alguns autores também brincam de tangolomango em suas publicações. Mostrei o livro Chá das dez, de Celso Sisto.  Quando mostrei a capa do livro, pedi que me ajudassem a ler o título. Ao lerem, algumas crianças começaram a perguntar: “É tangolomango?” Perguntei por que estavam perguntando isso e eles responderam porque tinha a palavra dez e apareciam dez velhinhas, logo deveria ser um tangolomango. Percebi logo que eles já estão conhecendo as características do gênero. Os alunos gostaram muito do livro e, página a página, foram observando e comentando as suas ilustrações. Cada velhinha era de um jeito diferente, mas eles ficaram muito curiosos em saber o que iria acontecer com cada uma delas. Os quitutes enumerados também eram motivo de interesse e ficaram procurando cada um deles nas ilustrações. O rocambole holandês foi o mais admirado. No livro, diferente dos outros textos já trabalhados, as velhinhas voltavam e isso gerou motivo de conversa entre eles. Também observaram que a palavra tangolomango não aparece. Questionei se o texto era então um tangolomango. Eles afirmaram categoricamente, pois as velhinhas vão saindo da história, pois algo lhes acontece. Trabalhamos oralmente muitos aspectos do texto e as crianças pediram para desenhar. Eu não havia planejado tal situação, mas permiti que o fizessem. Foi interessante, pois quiseram ver novamente as ilustrações. Emanuel ficou impressionado com o tamanho dos queixos ou dos narizes de algumas. Foram muitos risos!


 



Em comparação, vimos que o “Tangolomango das bruxas” também tinha dez personagens, assim como as velhinhas do “Chá das dez”. Refletimos sobre o Sistema de Numeração Decimal e em nossa sala desenvolvemos várias atividades com o material dourado, com palitos e até mesmo durante a exploração do calendário. Assim, aproveitei a numeração presente no tangolomango para pensarmos no jogo Nunca 10, pois, afinal, nunca temos 10 velhinhas para o chá.  Uma a uma vão saindo e, no jogo, uma a uma vão formando a dezena exata. No jogo, ao contrário, necessitamos juntar 10 unidades para trocar por uma barra que equivale a uma dezena. Solicitei a ajuda de uma dupla para que eu pudesse explicar o jogo para toda a turma. Após a primeira rodada com a dupla, pedi que outras crianças explicassem os procedimentos. Como todos já estavam compreendendo, distribui as peças para os outros grupos. Todos jogaram animadamente. Em cada grupo havia um banqueiro que auxiliava na troca das unidades pelas dezenas. Após o jogo, solicitei que fizessem um registro que mostrasse como se jogava o Nunca 10. Expliquei que poderiam valer-se de desenho, escrita, ou o que pensassem de diferente. Os registros ficaram muito interessantes e foram compartilhados no momento da roda de conversas. Fizemos uma comparação entre o jogo e o tangolomango. Gabriel Ferreira disse: “As velhinhas vão sumindo e aqui no jogo também nunca pode ficar 10!” E Francisco: “No tangolomango os números diminuem e aqui no jogo os números aumentam.”






Também li outros tangolomangos para as crianças que podem servir como novas opções: “Dez sacizinhos”, de Tatiana Belinky e “Dez patinhos”, de Graça Lima, “A casa das dez furunfunfelhas”, de Lenice Gomes e “Dez monstrinhos”, da Editora Lafonte.



Apresentação do Tangolomango das bruxas para as outras turmas:



Criação de jogo da memória do livro "Chá das dez":





Kit Chá da dez:

As crianças criaram os desenhos para o jogo da memória que consiste em emparelhar o quitute com o seu respectivo nome.
Eu montei ainda outra proposta. Letras móveis para formar cada parte do tangolomango. Um pra cada velha!!!!




 Para saber mais sobre tangolomangos no blog da Lica:

Tangolomango
Propostas com tangolomangos

Espero que tenham gostado! Até a próxima!

Ana Antunes









Entre o saber popular e o saber científico: um caminho a percorrer

A hortelã: usos e benefícios

“Observar não é, pois, uma atividade prévia à teoria; não é uma coleta aleatória de dados esparsos. É, antes, uma forma de olhar os fenômenos interrogando-os.” http://timfazciencia.com.br/observar/

A atividade teve início no Canto de São Francisco, um espaço ambiental criado na escola. Ao longo do semestre, estamos desenvolvendo um projeto sobre os chás medicinais. Levamos para o espaço um caça-vegetal, com pistas para que pudessem descobrir, entre outras, através dos sentidos a erva hortelã. Após a abertura de uma caixa, cujo conteúdo era o envelope que continha o jogo, conversamos sobre o assunto:


Prof: “Como poderemos achar esse vegetal?”
Catharina: “Ouvindo as dicas e procurando.”
Prof: “Com quais partes do nosso corpo?”
Catharina: “Com o olfato podemos sentir o cheiro.”
A partir da fala de Catharina, compreendi que ela já sabia a respeito dos sentidos. Mas, precisava verificar se esse era um conhecimento dela ou da turma.
Prof. “E o que mais?”
Maria Eduarda: “Podemos ver com os olhos.”
Prof: E como chama esse sentido?
Todos: “Visão!!!”
Thifany: “E pode sentir comendo”
Prof: “Esse é o paladar. Mas eu posso sentir com o tato.  Qual a parte do corpo?”
Camily: “É com a mão.”
Prof: “Mas eu só sinto com a mão? E se passar alguma coisa no meu braço ou na minha perna, eu sinto?
Joaquim: “É com a pele.”
Prof: “Então nós vamos ler as dicas, mas vamos combinar que, neste momento,  só usaremos a visão.”
Uma a uma, as pistas iam sendo sorteadas e alguma criança era escolhida para procurar a planta somente através da visão a partir da dica, que correspondia à característica do vegetal.



As pistas:

 É uma planta rasteira.
 A altura pode variar de acordo com a espécie.
Tem sabor de menta.
Tem alturas variadas: de 15 cm a 1 metro de altura.
Suas flores são pequenas e de cor violeta.
As folhas são ovaladas.
Tem sabor refrescante.
Possui folhas verdes.
As folhas são rugosas.
Suas folhas são aromáticas.

Algumas dicas não ajudavam muito a identificação, pois poderiam corresponder a qualquer planta e necessitavam de um conhecimento maior por parte dos alunos, mas eu tinha a certeza de que três dicas seriam muito boas para a identificação do vegetal:
Tem sabor de menta.
Tem sabor refrescante.
Suas folhas são aromáticas.






Quando essas dicas foram sorteadas, Sophia e Júlia logo acertaram. Joaquim, não contendo sua ansiedade, foi logo dizendo: “É a hortelã!”
Prof: “Bem, então já que vocês acertaram, utilizando somente a observação e as pistas, vamos conhecer a planta através do olfato?”
João: “Tem cheiro de pasta de dente.”
Kauã: “Parece bala!”
                                                      Maria Eduarda: “Hum... Que cheiro bom!”


Depois que todos sentiram o cheiro da hortelã, propus que os alunos observassem a planta e que a  tocassem.
Maria Luiza: “A folha tem risquinhos e tem as pontas não são lisas.”
A essa altura, todos já estavam querendo provar. Quando perguntei quem gostaria de provar a folha, todos levantaram o braço. Quando o primeiro aluno provou e disse que era bom, foi mais empolgante ainda. Todas as crianças provaram. Apenas duas disseram que não gostaram.
Perguntei o que a turma sabia sobre aquela planta. As respostas foram as seguintes:
“Tem o mesmo gosto e cheiro da pasta de dente.”
“É igual a bala de hortelã.”
“Pode usar nas saladas. “
“Pode fazer suco.”
“Serve para dor de barriga.”
“Tem cheiro bom.”







Levei um exemplar para a sala para que pudéssemos analisar melhor.
Verificamos que quando a planta é nova e pequena, o caule é fino e verde. As folhas são pequenas. Quando o vegetal cresce mais, o caule é mais grosso e possui a cor arroxeada.
Os alunos não conheciam muito os seus benefícios e também não sabiam dizer se os familiares a utilizavam.
Sendo assim, propus que levassem uma pesquisa para casa para descobrirem tais informações.
Propus desenhos sobre o vegetal para utilizarmos posteriormente no mural que iríamos construir.










Li a pesquisa juntamente com os alunos para que se apropriassem das questões que estariam levando para casa e expliquei-os sobre como deveriam proceder ao fazerem as perguntas aos familiares, com perguntas simples do tipo: “Nós utilizamos a hortelã aqui em casa?”

Todas as crianças levaram os questionários (anexo 1), porém tivemos contratempos, pois algumas crianças não os trouxeram para a escola no dia seguinte. Expliquei ao grupo que precisávamos das respostas de todos os alunos, pois a fonte de pesquisa eram os alunos da turma, portanto, todos deveriam participar. Depois de várias tentativas e de novas cópias distribuídas, conseguimos a totalidade de questionários respondidos para que iniciássemos o processo de análise dos dados obtidos.

Com os questionários em mãos, verificamos se haviam 35 questionários para nos certificar que todos os questionários haviam retornado. Conversei com as crianças, explicando que trabalharíamos com as informações em partes.

Retomamos a primeira questão: “A família utiliza a hortelã?” Todos queriam falar sobre o assunto. Combinamos que todos falariam e decidimos seguir a ordem dos questionários. Conforme fui chamando cada criança, esta ia respondendo se a hortelã era utilizada ou não. A partir daí, fomos marcando cada resposta para verificarmos, no final, a quantidade exata de respostas afirmativas e negativas.

Com as quantidades verificadas, completamos uma tabela para ser a base de informações e partimos para a elaboração do gráfico de barras. Como a turma já tinha participado de outras elaborações de gráficos, sua construção foi mais fácil.




Prof: “Como podemos fazer o gráfico?”
Joaquim: “Verificamos na tabela quantas respostas ‘sim’ e quantas ‘não’. Depois pintamos ou colamos o ‘quadradinho’ no gráfico dessa mesma quantidade.”
Thifany: “Tem que colocar o título em cima.”
Prof: “E onde fica a fonte de pesquisa?”
Todos: “Embaixo.”






Elaboramos, a partir da pesquisa realizada pelas crianças com os familiares, uma lista com a utilização da hortelã. Muitos já haviam incorporado as respostas do questionário e diziam com propriedade as formas de utilização da hortelã em suas casas. Resolvemos que cada criança explicaria como essa utilização se dava e, de vez em quando, ouvíamos algumas crianças dizendo: “Na minha casa também!” Fomos listando as utilizações no quadro e verificamos usos variados. Classificamos os usos em “ALIMENTAÇÃO” e “USO MEDICINAL”. Foi importante, pois nem todas as crianças conheciam, por exemplo, a utilização da hortelã como tempero para carne na preparação de quibes. O uso da hortelã na elaboração de sucos e chás eram as mais conhecidas. Essa atividade foi disparadora para a comparação das respostas dos familiares com as respostas das crianças no início da sequência didática:

 “É igual a bala de hortelã.”
“Pode usar nas saladas. “
“Pode fazer suco.”
“Serve para dor de barriga.”

Dessa forma, valorizamos os conhecimentos prévios trazidos pelas crianças, porém ampliamos o campo de informações, como cita uma criança: “Eu não sabia que hortelã era um tempero.”










Prof: Como é a utilização da hortelã nas famílias do 1° ano?
As crianças foram falando muito entusiasmadas sobre o que já dominavam: “Usamos para fazer chá.” “Para temperar e fazer sucos.” “Tem família que não usa.”
Partimos para a elaboração da tabela sobre a utilização. Elencamos as quatro possibilidades a partir das respostas: USO MEDICINAL, ALIMENTAÇÃO, OS DOIS E NENHUMA UTILIZAÇÃO.
 Lemos as respostas de cada criança e fomos anotando os resultados. Se a resposta de uma criança fosse tempero, marcávamos um traço para alimentação. Dessa forma, ao terminarmos a leitura de todos os questionários, tínhamos a quantidade exata de cada item que foi anotado em uma tabela e por meio dessas informações obtidas, tínhamos os dados para elaborar o gráfico de barras.

É interessante ressaltar que essas atividades foram realizadas coletivamente com o objetivo de produzir material para o mural da sala de aula, entretanto, cada criança também produziu suas tabelas e gráficos no caderno de matemática.

Elaboramos, a partir dos questionários, uma lista de benefícios trazidos pela hortelã, nossa última questão da pesquisa realizada com as famílias.

Prof: “Como os familiares responderam essa questão?”
Cauã: “Minha mãe já sabia.”
Catharina: “A minha mãe pesquisou na internet”
Prof: “Como podemos saber se todas essas respostas estão certas? Se a hortelã serve mesmo para tudo isso?”
Catharina: “Tem que pesquisar para ter certeza.”
Julia: “Nem tudo o que as pessoas dizem é verdade.”

“Verificar é, portanto, se dispor a examinar a veracidade de um enunciado ou alegação, buscar uma forma de se certificar que algo é verdadeiro ou que funciona tal como esperado. Isso implica, portanto, uma atitude e uma disposição não só para questionar algo, mas para desenvolver formas de verificação.” http://timfazciencia.com.br/verificar/

Aproveitei a fala de Júlia para fazer a distinção entre o saber popular e o conhecimento científico:
Prof: “Como é que chama quando um conhecimento vai passando de geração em geração?”
Camily: “Cultura popular.”
Prof: “Isso! Alguns conhecimentos fazem parte da tradição, quando vai passando de uma pessoa para outra através da oralidade.”
Então, como a Catharina disse, precisamos pesquisar para ter certeza se a hortelã traz todos esses benefícios.



Em outra situação, como leitura do dia, trouxe um texto informativo sobre a hortelã. Por meio desse texto, tivemos a oportunidade de ir verificando e nos certificando de alguns benefícios escritos na lista, porém, nem todos foram contemplados.  Fomos colando no cartaz, uma mãozinha (sinal de positivo), para os benefícios que foram pesquisados.

No final da atividade, percebemos que alguns benefícios citados pelos pais não haviam sido marcados, pois não constavam no texto informativo. Vimos a necessidade de fazer novas pesquisas.


Na sala de informática, utilizamos o site de busca “GOOGLE” para fazer uma pesquisa digitando “benefícios da hortelã”. Utilizamos o site http://www.saudedica.com.br/hortela/

Convidei os alunos a lerem as informações contidas no site e eles foram confirmando informações já conhecidas, além de descobrirem  novos benefícios. Conforme as crianças iam falando os benefícios já conhecidos ou novos, fomos escrevendo no quadro para formar uma nova lista que seria retomada posteriormente em sala de aula, para a escrita no caderno e de uma nova listagem para o mural da sala com o conhecimento pesquisado.

“A verificação é fruto não simplesmente de uma técnica ou hábito, mas de uma disposição: a de buscar formas de comprovação daquilo que se crê ser verdadeiro, válido ou eficaz.” http://timfazciencia.com.br/verificar/
  
Em sala de aula,  lemos uma receita de chá de hortelã para que as crianças pudessem compreender seu modo de preparo, além de preencher a ficha da erva.

Finalmente, preenchemos a ficha da hortelã com os seguintes itens:

NOME
UTILIDADE
MODO DE PREPARO
CURIOSIDADE



 “Perguntar e responder são nossas ferramentas intelectuais mais importantes. As respostas que temos em nossas cabeças não significam nada a menos que saibamos as perguntas que as produziram. Uma pergunta é um tipo de oração. Mal formulada, não produz conhecimentos ou compreensão. Bem formulada, leva-nos a novos fatos, novas perspectivas, novas ideias.” http://timfazciencia.com.br/questionar/




O desenvolvimento desse trabalho foi muito prazeroso. Tanto para mim, quanto para as crianças. Levantar questões pertinentes, fazendo intervenções pontuais e relacionadas ao cotidiano da criança é muito interessante, pois os alunos se interessam de imediato. Além disso, criar atividades que culminarão em produtos que reverberarão de forma positiva e utilitária para a comunidade em que as crianças vivem é fundamental para uma educação que produz desenvolvimento.

Essa experiência foi publicada no "Caderno Metodológico" organizado pela Equipe Pedagógica da Secretaria Municipal de Petrópolis.

Ana Antunes