Começamos
a criar as regras do boliche a partir da regra escrita da brincadeira Vivo ou
Morto. Foi importante, pois já tínhamos
um “modelo”, para pensar, pois precisávamos criar um “texto de fazer
brincadeiras”, como Francisco havia dito anteriormente.
Reli
o texto instrucional Vivo ou morto.
Ana:
Vamos fazer parecido com esse?
Todos
concordaram.
Ana: Quem joga? Quantas pessoas podem jogar?
Pedro:
Todos, mas precisa ser um de cada vez.
Ana:
Mas qual a quantidade mínima? Alguém pode jogar sozinho?
Heloisa:
Pode, mas vai ficar triste! A criança vai ficar cansada de tanto brincar
sozinha.
Ana:
Então qual é o mínimo de pessoas?
Heloisa:
De duas.
Ana:
E qual a idade mínima para jogar boliche?
Primeiro
eles tiveram dificuldades para compreender o que era idade mínima. Fui dando
exemplo para pensarem. Aproveitei as regras do vivo e morto para isso. Depois que entenderam o que eu estava
perguntando foi uma discussão generalizada. Fiquei observando o que eles
diziam... “Eu tenho seis e é a idade mais certa para essa brincadeira. “
Ana:
Quem tem 7? Vocês sabem jogar boliche?
Todos
iam afirmando. Penso que eles não queriam é ficar de fora da brincadeira.
Ana:
Quem tem 6 sabe jogar boliche?
Maria:
Ah, então o mínimo é seis!!
Ana:
Ana Carolina, você tem 5. Acha que pode jogar boliche?
Ana
Carolina: Eu sei!
Ana:
Então gente, o boliche é para seu usado por vocês e a Ana Carolina também sabe
jogar. Qual deverá ser a idade mínima?
Todos:
5 anos.
Ana:
Qual será o espaço da brincadeira?
Todos:
Pátio!
Ana: E o material?
Todos: 6
garrafas e uma bola
Como
jogar?
Ana:
O que faz primeiro no jogo?
A
maioria achava que tinha que arrumar as garrafas, escolher os jogadores e
depois jogar. Fizemos uma primeira versão do texto. Disse aos alunos que
retomaríamos o texto no dia seguinte.
Ao começarmos a revisão, notei que algumas
crianças não concordavam com a ideia da proposta atual. A discórdia estava por
conta da ordem em que os assuntos apareceriam. Gabriel dizia com muita
precisão: escolher, arrumar e jogar! “Tem que ser assim!” Isso aconteceu porque
Gabriel faltou no dia anterior. Na quinta o texto já estava feito, mas
precisava de revisão. Quando ouviu a leitura, não quis aceitar e começou a
convencer as crianças de que estava certo: “Quando a gente joga sempre escolhe
a vez de cada um, depois é que se arrumam
as garrafas! É assim que se faz: escolhe, arruma e joga!” Leonardo
estava em dúvida, pois achava que tinha que ser arrumar, escolher e jogar.
Entretanto, como Gabriel foi bem enfático, acabou convencendo a maioria.
Ana:
Mas faz diferença?
Gabriel:
A gente tem que escrever certinho, então tem que ser do jeito que eu falei!
Ana:
E como vai ser a escolha dos jogadores?
João:
Pode ser por ordem de tamanho.
Todos
concordaram, mas eu disse que havia outras formas para essa escolha, como par
ou ímpar, zerinho ou um, sorteio, etc.
Mesmo assim a ordem de tamanho foi soberana.
Ana: Ah, então tem outra coisa que eu acho importante. A arrumação das garrafas.
Propus uma atividade onde as crianças deveriam mostrar através de desenho, como
seria a arrumação das garrafas. Quando terminaram fui colando os desenhos de
acordo com a forma escolhida. Apareceram três opções. Com as garrafas fui
colocando igual aos desenhos e as crianças foram avaliando as possibilidades. A
maioria dos alunos colocou as seis garrafas uma ao lado da outra. Emanuel, logo
de cara, não aceitou essa possibilidade, pois afirmou que seria muito difícil
para acertar todas as garrafas de uma vez só. Todos viram as garrafas
enfileiradas e concordaram com o colega.
A
opção de Francisco era colocar três na frente e três atrás. Evangelina disse
que gostou dessa opção, pois as da frente poderiam derrubar as de trás. A ideia
de Emanuel era enfileirar as garrafas
uma atrás da outra. Heloisa disse que não seria uma boa opção porque seria
difícil acertar a da frente e provavelmente errariam os lançamentos. Emanuel
concordou e disse que gostou mais da ideia de Francisco. E todos concordaram.
Voltamos
para a regra e terminamos o texto. Tive que intervir em muitas ocasiões e
ajudá-los pensando em palavras mais adequadas a esse tipo de texto. Entretanto,
esta é a primeira escrita de um texto instrucional dessa turma. O modelo do
Vivo ou morto ajudou muito, porém é uma novidade. Assim, os próximos textos
serão facilitados.
As crianças adoraram usar anilina para colorir a água que colocamos na garrafa para que a garrafa ficasse mais pesada e o jogo mais difícil.
Criando uma tabela para marcar os pontos:
No dia
seguinte, li as regras do boliche e vimos que tínhamos que anotar os pontos de
cada jogador. Para tal, Pedro sugeriu um caderno. Perguntei se não havia outra
forma mais simples. Leonardo viu uma tabela que eu havia traçado e deixado na
sala, de propósito. O “peixe foi fisgado"!
Leo:
Por que não usamos aquela tabela ali?
Ana:
Pode ser! Mas ela está vazia. O que ela precisa?
Leo:
Dos nomes.
Entreguei
tiras para que cada um escrevesse seu nome.
Ana:
Como organizaremos os nomes?
Gabriel:
Vai colocando.
Heloisa:
Por tamanho.
Ana:
Posso sugerir uma opção?
Todos:
Sim!
Ana:
Poderia ser pela ordem do alfabeto?
Todos
aceitaram!
Ana:
Como vocês acham que funciona?
Leonardo:
Vê quem começa com A, com B...
Ana:
E tem alguém que começa com A?
Todos:
Ana Carolina e Angelo.
Ana:
Então... Qual será o nome que será colado primeiro?
Heloisa:
Ana Carolina.
Ana:
Por que Ana Carolina?
Heloisa:
Por que a Ana Carolina é menor que o Angelo.
Começa
uma falação em sala! Emanuel propõe uma votação.
Thierry:
Tem que ser o Angelo porque o nome é menor. Primeiro o menor, depois o maior.
Melissa:
Tem que ser a Ana porque ela é pequena
.
Ana:
Mas nós não combinamos que seria pela ordem do alfabeto? E como isso funciona?
Leonardo:
Tem que ver as letras que começam.
Ana:
Olha só, eu vou escrever os nomes dos dois no quadro. Olhem a primeira letra
dos dois.
Todos:
A!!!!
Começa
outra falação porque a letra era a mesma e estava difícil resolver o problema.
Ana:
E se nós olhassemos a segunda letra?
Todos:
Iguais!
Gabriel
F.: Eu já sei! Ana tem A e Angelo tem G. Então a Ana vai primeiro.
Ana:
Explica melhor!
Gabriel
mostra as letras do alfabeto que estão no quadro e diz: O A vem antes do G. “Tem
que olhar a terceira!”
Quando
chegamos na letra E, tínhamos Emanuel e Evangelina. Vimos que a primeira letra
era igual. Sarah achava que Evangelina deveria vir primeiro porque terminava
com A e Emanuel com L. Usei o exemplo de Ana Carolina e Angelo para mostrar que
fomos olhando letra após letra.
Ana:
O que você acha, Sarah?
Sarah:
O Emanuel, depois a Sarah porque o M tá na frente do V.
Os
próximos nomes eram Gabriel Ferreira e Gabriel Henrichs. Coloquei somente o
primeiro nome.
Todos
falando que os nomes eram iguais.... “Que letras vamos ter que olhar?”
Pedro:
Um é Gabriel FERREIRA e o outro é Gabriel HENRICHS!
Ana:
Ah, então vou escrever...
Leonardo:
É o Ferreira primeiro!
E
fomos assim até o final.
Jogando e registrando:
Fizemos na calçada da igreja a primeira rodada do jogo do boliche.
Lemos as regras do jogo e depois jogamos. Emanuel ficou como gandula para ir
pegando a bola e também organizando as garrafas. Kethlen e Maria Cecília foram
as marcadoras da pontuação. Fizemos somente uma rodada. Sentamos todos e
refletimos sobre o que fizemos para vermos se agimos de acordo com as regras
estabelecidas. Em sala, cada um registrou a brincadeira através do desenho.
Fizemos
mais duas rodadas. A cada término de partida, mesmo com a tabela, as crianças
iam registrando seus pontos numa folha registro e assim, acompanhavam mais de
perto seus lançamentos.
A primeira
rodada aconteceu na porta da igreja e as duas últimas no coreto. Angelo fez
questão, mesmo sem ser solicitado, de registrar o lugar da partida.
Propus
novas reflexões, através de problemas, onde as crianças estão fazendo adições a partir de possíveis jogadas.
Angelo
foi o grande vencedor e agora novas propostas, lançadas pelos próprios alunos, serão nossos próximos objetivos.
Posso afirmar que essa atividade foi muito interessante para todos, pois tudo foi decidido com a turma e em todas as situações, mesmo durante as partidas, as crianças fizeram todo o trabalho: marcando pontos, entregando a bola para o jogador, buscando a bola quando era lançada para longe. Os alunos também ficavam empolgados quando algum colega derrubava as garrafas. Foi um grande trabalho de equipe. O processo foi mais demorado, mas foi vivenciado e mesmo havendo só um vencedor, todos saíram ganhando.
Um abraço,
Ana Antunes